A arte debaixo de vara
"Guernica" é aqui e agora, diz Rushdie; artistas devem iluminar a vida, não fritar hambúrguer, diz Coppola; o GPT-4o “ri e flerta ligeiro”, diz Dória; doenças são uma fonte de erros, diz Pascal [i+]
Começo a escrever cedo, ainda não são sete da manhã.
Tenho, à frente e à minha esquerda, nesgas imaculadas de azul do céu, e tenho a companhia quieta da carolina, agora a despejar suas sementes no asfalto, esperançosa de impossível semeadura.
Sopra uma leve brisa, a redimir a noite encalorada, calor de maio, santo deus.
É uma segunda-feira sem o ar de segunda-feira, sem se parecer segunda-feira, talvez um oitavo dia que invento e não preciso nomear.
Vivemos à mercê desses estados d’alma, como dos neurotransmissores, como das memórias, como disso e daquilo, daí as sensações às vezes incomuns, algumas deliciosas, outras nem tanto.
Dormi menos do que precisava e o saldo negativo do sono me cobra lavar o rosto uma terceira vez para continuar meu batuque, além de mais café.
Na volta abro o “El País” online e me animo por achar algo que ler, o que é cada vez raro.
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A repórter Andrea Aguilar acompanhou o escritor britânico (com raízes indianas) Salman Rushdie em uma vista aos museus do Prado, Reina Sofia e à igreja e o convento das Trinitarias, o Monastério de San Ildefonso e San Juan de la Mata.
Rushdie, com 76 anos, promovia em Madri a edição espanhola de seu último livro, "Faca: Reflexões sobre um Atentado" (Companhia das Letras).
O autor elabora memórias do ataque que sofreu nos Estados Unidos, há dois anos este mês. Como sobrevivente, refaz sua autobiografia.
O ataque ocorreu trinta e três anos depois da sentença de morte, a “fatwa”, decretada contra ele pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.
O terrorista, um jovem lunático morador de Nova Jersey, o apunhalou quinze vezes, em vinte e sete segundos.
Rushdie escapou por pouco, pouquíssimo, e perdeu o olho direito.
No livro, ele trata o assassino frustrado apenas de “A.”, sugerindo que pode ser a inicial de Asno.
É boa leitura.
E digo logo que Rushdie faz um elogio a Machado de Assis (1839-1908).
Conta ter se lembrado de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (“o excelente romance brasileiro”) durante sua agonia no trânsito hospitalar.
Minha leitura de “Faca” coincide com a alegre e substancial circulação planetária do espanto maravilhado da influenciadora americana do TikTok Courtney Henning Novak com o romance.
Nosso Brás Cubas deve ter ficado todo prosa em sua existência eterna de defunto autor.
“A Faca” começa deste jeito:
“Às quinze para as onze do dia 12 de agosto de 2022, uma manhã ensolarada de sexta-feira, no norte do estado de Nova York, fui atacado e quase morto por um jovem com uma faca, logo depois que subi ao palco do anfiteatro de Chautauqua para falar sobre a importância de garantir a segurança dos escritores.”
Em Madri, eu dizia, Rushdie revisitou obras de Velásquez e Goya no Prado e o “Guernica” no Reina Sofia.
Sobre o último, obra monumental do malaguenho Pablo Picasso que ilustra este Escrevidas, ele comentou:
“Guernica fala do nosso tempo e nunca deixará de estar na moda porque sempre há guerras. As bombas seguem caindo e há gritos”.
Me interessou mais o relato de sua visita à igreja do convento das Trinitárias Descalças (que não pude conhecer, embora tenha cruzado por ele algumas vezes), onde estariam enterrados os restos de Miguel de Cervantes (1547-1616).
Há inscrita nessa igreja, em homenagem ao autor do “Quixote”, esta citação de sua última obra, “Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda”:
“O tempo é breve, as ânsias crescem, as esperanças minguam, e, com tudo isso, levo a vida sobre o desejo que tenho de viver”.
Cervantes, aí, molda brevemente a matéria frágil de que somos feitos, seres desejantes, por mais que nossos horizontes se estreitem.
O escritor era um homem debilitado. Fora aprisionado por piratas e escravizado durante cinco anos, na Argélia. Seu resgate foi pago por religiosos espanhóis.
Ainda que tenhamos a saúde frágil, ou recebamos um diagnóstico médico ruim, mais ainda desejamos viver, ou é aí mesmo que queremos viver.
A saúde é o certo.
E as doenças, como diz Pascal (1623-1662), são um princípio de erro (outros são as “impressões antigas” e os “encantos das novidades”):
“Elas estragam em nós o juízo e o senso. E se as grandes o alteram sensivelmente, não duvido de que as pequenas também deixem aí a sua impressão na devida proporção.” [“Pensamentos”, tradução Mário Laranjeira]
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(Atualização na quinta-feira, às nove horas e dezesseis: ontem, dia vinte e dois, foi o primeiro dia de maio, maio real, maio ideal, com a luz tênue da manhã harmonizada com os ventos frescos desse mês. Claro, isso lembra a canção de Lô, Márcio e Telo Borges que abre a playlist desta edição.)
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No último domingo comecei a postar, com exclusividade no Escrevidas, os pequenos contos do meu “Réquiem do Boi – Memórias Melódicas”.
Na aba Folhetim, no site, você encontrará todas as publicações relacionadas.
Antes do primeiro capítulo, “Itália”, contei brevemente a longa história desse livro, livro que devia ter sido.
Neste domingo, dia vinte e seis, sairá o segundo episódio, “Geninho”.
Os três primeiros capítulos estarão abertos, os demais destinados às subscrições pagas.
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“Os artista devem iluminar a vida, não fritar hamburgueres sem nutrientes”, disse, em Cannes, o cineasta americano Francis Ford Coppola.
O diretor de “O Poderoso Chefão” e “Apocalipse Now”, com 85 anos, lança “Megalópoles”, longa-metragem que levou 40 anos para ser terminado.
Me alegra que Coppola esteja bem e ativo.
É difícil respirar no vácuo midiático das celebridades do mundo pop, incluindo milionários e jogadores de bola.
Todos e todas me parecem bem iguais, com mais ou menos os mesmos apelos — velhos apelos — redesenhados pelo marketing digital e adaptados às ilusões da época.
As controvérsias e os encantamentos que as celebridades despertam são tão estreitos, ralos e triturados nas redes sociais que em geral não duram mais que algumas horas.
E logo novas bolachas frescas são atiradas à sanha roedora da fofoca planetária, em movimento que lembra o vórtice nas águas provocado por cardumes a disputar comida.
No final das contas, sobram idolatria, consumo e alguma música para se ouvir nos treinos (como a ginástica deve ser agora nomeada).
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Cá entre nós, que os contorcionismo sexuais de Madona em Copacabana tenham feito a crítica delirar e a mídia se babar por suas transgressões — no presente estado da arte da pornografia — me faz temer ainda mais pelo poder da inteligência artificial.
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Não é raro que o grande artista, um verdadeiro criador, só apareça no noticiário debaixo de vara, para abusar dessa expressão jurídica.
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A “imprensa” raramente menciona a existência de escritores além de três ou quatro bem cotados e festejados nas redes sociais.
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A impressão que me vem ao ler sobre bienais de arte e novas exposições é de que pavilhões e galerias se tornaram espaços de expiação coletiva da culpa civilizatória.
Me lembra a “confissão comunitária” dos católicos, que se aplica quando a confissão individual não pode acontecer, devido a segurança do fiel e do sacerdote.
A própria noção de beleza e valor artístico afunda-se em culpa.
Tudo é de viés sob a hegemonia da moral progressista.
Esses ambientes são frequentados por fiéis (seculares) que acreditam que o inferno são os outros.
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Vivemos o tempo da carne moída e do aborto serial da invenção.
A arte, a arte transformadora, só vem à luz a fórceps ou milagre.
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Me perdoe se te pareço injusto, leitora amiga e leitor amigo (toque machadiano, não é?, que me encanta). É a minha natureza de jornalista.
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Que o rock virou um parque de diversão planetário é notícia do século passado.
A novidade é o crescente ecumenismo.
Não emprego essa palavra, ecumenismo, em vão.
Ainda que sem deuses e ritos sacramentais (Chuck Berry, Elvis e, claro, Eric Clapton, à parte, para seus fãs), o rock é cada vez mais nobre e santificado.
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O jazz ainda é jazz, graças ao menino Jesus.
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A propósito, por mais que o tema seja controverso, Música ainda Música.
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Há dias não vejo a pequena saracura-três-potes que saçarica na Mata das Borboletas.
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Releio trechos dos “Diários” de Kafka (1883-1924). São tão angustiantes quanto a ficção.
“A tristeza inimaginável pela manhã”, começa uma entrada bem típica, essa de vinte de outubro de mil novecentos e treze, em que ele põe, logo à frente:
“Não tenho vontade sequer de manter um diário, talvez porque nele já faltem coisas demais, talvez porque teria sempre de descrever minhas ações pela metade, e, ao que tudo indica, necessariamente [grifo original] pela metade [...]”. [Tradução Sergio Tellalori].
Em vinte de junho do mesmo ano, lutando contra medos, ansiedades e a insônia, tem este descortino:
“O mundo formidável que trago na cabeça. Mas como libertar-me e libertá-lo sem me dilacerar? E dilacerar-me é preferível a contê-lo ou enterrá-lo em mim. É para isso que estou aqui, isso me é muito claro.”
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Pedro Dória, jornalista do ramo, teve acesso ao GPT-4o, nova versão de inteligência artificial da OpenAI que logo chegará ao público, se ainda não chegou:
“Ser onimultimodal [capaz de lidar com texto, som e imagem ao mesmo tempo] permite ao novo ChatGPT algumas coisas. Uma é nos ver pela câmera do celular. Com a compreensão que construiu do que é um ser humano, interpreta nossas emoções. Pode, portanto, nos ver, nos sentir e nos responder num tom de voz compatível. Sim, o novo ChatGPT dissimula emoções na maneira como fala. Ri, flerta ligeiro, se mostra aberta e interessada. No feminino. A voz e seu jeito, na apresentação, lembravam Samantha, a IA do filme ‘Ela’, interpretada na fala pela atriz Scarlett Johansson, dirigida por Spike Jonze. A inspiração de como apresentar foi nítida. E confessada. A ficção científica cria mundos possíveis, os engenheiros implementam o projeto. Parecia um futuro longínquo. Chegou.”
Também vem aí a versão aprimorada do Gemini, da Google.
E vem aí, ou já está aí, a propósito, uma revolução nos sistemas de buscas, que prometem ficar, ou já ficaram, mais espertos e menos irritantes pra achar o que pedimos.
Em vez de nos sugerir listas de endereços na internet, a maioria sem nada a ver, já entregam o esclarecimento que buscamos.
Isso vai diminuir o tráfego de muitos sites, cuja sobrevivência depende disso.
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Demétrio Magnoli escreveu sobre a base militar israelense de Sde Teiman, mantida por Israel no deserto do Neguev, com um centro de detenção.
“É uma Guantánamo no deserto”, diz Magnoli, que se baseia em documentada investigação da CNN:
“Os prisioneiros, manietados em ambientes contaminados por fezes e ratos, impedidos de se locomover durante dias inteiros e proibidos de falar, sofrem abusos e sevícias intermitentes.”
A tortura é cometida nessa prisão “por vingança”, afirma o colunista, ao argumentar:
“A tese da bomba-relógio, um cenário que só aparece no cinema, forma a base lógica da prática estatal da tortura. Contudo, não funciona em Sde Teiman: no cárcere para supostos combatentes de campo, não há dirigentes do Hamas ou da Jihad Islâmica que possam guardar segredos sensíveis.”
O governo israelense, de extremistas fanáticos, além de manter a carnificina em Gaza, conseguiu sujar ainda mais as águas da história dos conflitos na região;
Inibiu ou desarticulou o discurso moderado e pacifista de humanistas como Amos Oz (1939-2018), lembrado por Magnoli, alimentou credos extremistas e a propagação de meias verdades e desinformação;
E, desgraçadamente, para uma boa parte da opinião pública, relativizou (ainda mais) os atentados terroristas do Hamas de outubro do ano passado.
Espalhar a suprema crueldade no mundo, o mal, obviamente não encaminhará qualquer processo de entendimento, nenhuma paz.
Benjamín Netanyahu e seus supremacistas sabem disso melhor que nós.
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Alô polícia, eu tô usando
Poesia! um Exocet!
Poesia!
Um Exocet errante, um anti-GPS, um sumidouro.
Pode até acertar na cuca.
Chances lotéricas.
Poesia é caso de polícia se é caso de política.
Prendam o poeta perdido na burocracia, perdido em temáticas fora da moral e dos bons costumes da época.
Levem-no debaixo de vara a se explicar às comissões averiguadoras do pensamento.
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O atormentado jornalista, ator, agitador cultural e poeta Torquato Neto (1944-1972), que tinha um “mau elemento no hipotálamo” a cortejar o suicídio, segundo Tom Zé, escreveu:
"Poesia. Acredite na poesia e viva. E viva ela. Morra por ela se você se liga, mas, por favor, não traia. O poeta que trai sua poesia é um infeliz completo e morto. Resista, criatura."
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Em 1964, Torquato escreveu sua primeira canção, “Nenhuma Dor”, com música de Caetano Veloso, gravada em “Domingo – Gal e Caetano Veloso” (1967).
Nesse trecho de vídeo extraído do “Fantástico” (1977), de uma homenagem ao artista, com Wagner Tiso ao piano e Jards Macalé no violão, Gal está linda como nunca, canta divinamente e expressa toda a triste beleza dessa canção.
O vídeo é ruim, único registro que encontrei.
A gravação integral pode ser vista no bom documentário “Torquato Neto – Todas as Horas do Fim”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, que passa no Canal Brasil e se aluga na Claro por seis reais e noventa centavos.
“Minha namorada tem segredos
Tem nos olhos mil brinquedos
De magoar o meu amorMinha namorada, muito amada
Não entende quase nada
Nunca vem de madrugada
Procurar por onde estouÉ preciso, ó doce namorada
Seguirmos firmes na estrada
Que leva a nenhuma dorMinha doce e triste namorada
Minha amada, idolatrada
Salve, salve o nosso amor”
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Noto que o jornal “O Globo” pega as manhas dos sites que vendem saúde e fazem anúncios histéricos de dietas milagrosas e advertências fabulosas contra alimentos que comemos há milênios.
A caça ao clique tem mil apelos.
Título destacado no portal de uma notícia domingueira sobre as maravilhas do abacate:
“Isto é o que pode acontecer ao seu fígado se você consumir abacate todos os dias”.
Sacou?
O redator Mandrake dá um susto no leitor que come seu abacatinho com gosto, sem pensar muito no tipo de nutriente e molécula que costuma engolir.
Mas diante de um título desses, considera marcar exames pra saber quanto tempo ainda tem de vida.
Antes, claro, vai clicar e ler a matéria.
E descobrir...
...Que deve comer ainda mais abacate, pois a fruta, informa o jornal, confere oitocentos benefícios à nossa saúde.
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Como diz a prima Ná, ah, cuá.
Ó abacateiro, veja você, criatura.
Vão refazendo tudo, é uma refazeção geral de tudo, o mundo está mesmo uma guariroba, oremos com Gil:
“Abacateiro
Acataremos teu ato
Nós também somos do mato
Como o pato e o leãoAguardaremos
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos
Teu amor, teu coraçãoAbacateiro
Teu recolhimento é justamente
O significado
Da palavra temporãoEnquanto o tempo
Não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamãoAbacateiro
Sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem [...]”(“Refazenda”, faixa-título do LP de 1976)
*
O escritor português Ricardo Pereira Araújo, colunista do jornal “Folha de S.Paulo”, tem o melhor texto de humor na praça.
É culto, sagaz e agudo. Não há ninguém na mesma estatura escrevendo como ele hoje no Brasil.
A coluna do último domingo trata da “semântica própria” do mundo digital.
“A palavra ‘conteúdo’, por exemplo, significa [na internet] quase sempre ‘ausência de conteúdo’. É curioso”, diz o gajo, que se sai com este exemplo:
“A frase ‘vou criar um conteúdo filmando o meu gato dormindo’ quer dizer, na verdade, ‘vou produzir um pouco de vácuo’.”
Ricardo também nota a pirueta que deram no verbo compartilhar.
“Compartilhar, fora do mundo digital, é um ato de generosidade. Quando, por exemplo, compartilhamos um pão com alguém, isso quer dizer que lhe damos um pouco do nosso pão. Nas redes sociais, o ato não é exatamente generoso, uma vez que compartilhar significa, na verdade, exibir.”
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Há pouco recomendei aqui “Pequenas Impressões Sobre o Caos”, do cantor, compositor e pianista Breno Ruiz.
Meu radar de novidades agora capta “Milagres”, novo álbum de Breno, dessa vez em companhia da cantora Alice Passos.
As 11 faixas são do músico; as letras, de Paulo César Pinheiro.
Edu Lobo participa de “Acalanto para Quem Tem Filha”.
Você tem lido muito o nome de Pinheiro, chamado de Paulinho por amigos, no Escrevidas.
Semana passada comentei “Prosa & Papo”, de Dori Caymmi, que tem várias canções escritas por ele.
Com 75 anos, conserva a fertilidade de um dos maiores letristas da canção popular, ainda que nele talvez já se apague a faísca dos grandes achados poéticos.
Mesmo assim, segue a interpretar com maestria uma melodia e tirar dela uma canção justa e cantável, como poucos fazem.
Paulinho, tratado assim no meio musical, nunca pecou pela modéstia. Sabe o que sabe e sabe o que pode.
Tem raízes entre o mar e a serra do Rio e liga-se a misticismos, influências que sua obra sempre refletiu.
Já Breno se reafirma como compositor inspirado e sofisticado.
Há belas variações rítmicas em suas melodias, como na faixa título.
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A gravadora Biscoito Fino soltou um áudio com um baita elogio de Egberto Gismonti a “Milagres”.
“Eu nunca tinha ouvido um disco com gente nova, que praticamente pouco gravou, ou nada gravou, fazendo [...] músicas que parecem estar pontas desde o início do século passado, de tão bem estruturadas”, diz Gismonti, “onde o neto do compositor, se assim o fosse, tinha se dedicado a vida inteira a enxugar pra fazer aquela coisa do mínimo possível para não atrapalhar”.
O comentário traduz bem as criações de Breno, que passeiam, é verdade, com desenvoltura pela grande esplanada da música brasileira, e passa do velho ao novo com elegância e distinção, isto é, com originalidade.
Gismonti, digo de passagem, nunca perde o veneno.
É alguém que faz questão de dizer bem de si e do que faz — como se precisasse se autoafirmar — sempre de forma contrastada com quem é diferente, que não faz como ele faz, se é que consigo me explicar.
Ao louvar o estilo contido do piano de Breno ele termina a frase com o qualificativo “sem exibicionismo”.
As orelhas de André Mehmari, hoje a maior estrela do instrumento na música popular, devem ter esquentado, ou ao menos as orelhas dos fãs de André, entre os quais me ponho.
Escrevidas é uma pizza de palavras — metade ensaio, metade crônica. A fornada sai às quintas-feiras antes do meio-dia, ou pouco depois, ou a qualquer hora em edição extraordinária.
A farinha é do moinho do jornalismo desde 1986.
Nos ingredientes vão música, literatura, cinema, TV, arte, ciência, ideias e um pingo de poesia — com o tempero do inesperado.
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Por ora é isso, bicho, acho.
Salve e saravá e um abraçaço!