A vida “instagramável” como ela é
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O negócio veio, santo deus, do termo inglês “instagrammable”, e já foi até dicionarizado nesse idioma.
Imediatamente foi apropriado pela moderna língua brazileira, como “instagramável”.
A expressão ainda é esnobada tanto pelo Houaiss quanto pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), ou seja, ainda não é oficial por aqui.
E para quê, que falta faz, quem se importa?
Os animadores da comunicação, faz tempo, adotaram com gosto a expressão.
Para muita gente, “instagramável”, como qualquer outro estrangeirismo, é tão sublime quanto luar ou saudade.
Conforme o confuso e erradio Gemini, robô de inteligência artificial do Google, outras possíveis traduções de “instagrammable”, creia-me, minha leitora, meu leitor, seriam “instagrambável” ou “instagrameável”.
Topam-se variantes como “fotogênico”, “digno de Instagram” e “ostentável”.
Em espanhol vão de “instagrameable”, em alemão, com boa vontade, “instagramtauglich”, em japonês, deus é grande, “インスタ映え” (“insuta-bae”).
O robô concorrente da Microsoft, que também pode ser, sem ofensas, muito caótico e aluado e atende pelo nome de Copiloto, depois de peruar as redes por alguns segundos, negaceou no prompt mas deu a dica:
“Instagramável" é um trem atraente, interessante o bastante para ser fotografado e compartilhado na rede social Instagram, Insta para os mais descolados, isto é, mais cool.
A expressão é usada para descrever lugares, comidas, experiências ou objetos visualmente apelativos e que podem gerar engajamento e interações na plataforma, ensina mister Copiloto.
Esses robôs, a propósito, são tata-tataranetos da “máquina de Turing” (Alan Turing, 1912-1954, que é tata-tataravô dos computadores atuais).
Ainda Copiloto, irrequieto animal tech:
“O termo é uma junção de ‘Instagram’ e ‘amável’, indicando algo que é digno de ser postado no Instagram.”
Pois sim.
O dicionário-robô oferecido do Word ainda me propõe, no batucar este Escrevidas, conjugações, corretivas, do verbo “instagramear”: eu instagrameio, tu instagrameias etc.
Eu disse bom dia e ignorei, como o Eduardo Dusek em “Nostradamus” (canção apocalíptica do álbum de 1981).
Andava mesmo com ideias de fim do mundo desde “Oppenheimer” e dos nove episódios, em dez horas, do documentário “Ponto de Virada: A Bomba e a Guerra Fria”.
Mas agora que aprendi o que é “instagramável”, entro com uns pitacos.
A amável leitora há de considerar que são frutos de uma ideia fraca, uma débil inteligência natural.
“Instagramável” é, ouso propor, tudo que é fofo.
E o Insta é uma uma tecnologia fofa.
Mas não. Vai muito além disso. Há muita coisa em jogo.
O vocábulo tem algo revelador, em camadas profundas, que deveria ser explorado e exposto ao sol das ideias.
“Instagramável” é uma filha florida dos novos tempos.
“Instagramável” brota nos jardins da linguagem humana como uma aplicação tecnológica perfeita e rapidamente adaptada ao gosto da civilização, aos nossos modos de viver.
E, claro, quando falo no Instagram tomo a parte — a adesão a uma rede social — pelo todo — as novas tecnologias digitais.
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