Quando o ardoroso espectador vira colibri
Um resumo da ópera — e do circo — em homenagem ao aniversariante do mês, que é mais — ou devia ser — o aniversariante de um país
“Não
Não sei se é um truque banal
Se um invisível cordão
Sustenta a vida realCordas de uma orquestra
Sombras de um artista
Palcos de um planeta
E as dançarinas no grande finalChove tanta flor
Que, sem refletir
Um ardoroso espectador
Vira colibriQual
Não sei se é nova ilusão
Se após o salto mortal
Existe outra encarnaçãoMembros de um elenco
Malas de um destino
Partes de uma orquestra
Duas meninas no imenso vagãoNegro refletor
Flores de organdi
E o grito do homem voador
Ao cair em siNão sei se é vida real
Um invisível cordão
Após o salto mortal”“O Circo Místico”, Edu Lobo e Chico Buarque, 1982
É o “LP mais bonito do século”, disse Aldir Blanc (1946-2020).
Ano passado, fez quarenta anos de vida, e acho que nem bem nasceu. A verdadeira obra-prima se garante com a posteridade, no futuro.
Em cem, duzentos ou trezentos anos, saberão reverenciar essa prenda já “fora do tempo”, fora dos limites que nós, contemporâneos, nos defrontamos para perceber a real grandeza de uma obra artística.
Eis uma profecia de quem mal sabe o que vai fazer de noite, mas que se encanta toda vez que ouve as primeiras notas das onze faixas originais desse disco.
“A obra completa do artista é uma das maiores riquezas que a cultura brasileira produziu até hoje”, lemos na apresentação do site chicobuarque.com.br.
Ninguém vai discordar, espera-se.
E como essa obra é tão extensa, preciosa e apreciada, pensei em representá-la numa espécie de síntese do conjunto, por amostragem.
Escolhi “O Grande circo Místico” nesta homenagem para, com minha leitora e meu leitor, felicitarmos o aniversariante do mês.
As canções de Chico — entre as estrelas de maior brilho no firmamento das canções — têm na minha formação, se não igual, peso semelhante aos de meus anos escolares, às artes e grandes filmes que pude ver, aos livros que pude ler e às viagens que pude viajar.
Faço uma breve apresentação da obra escolhida, como se me escondesse na plateia desse misterioso circo, com os holofotes sobre algumas das canções e seu contexto no roteiro da peça.
“O Grande Circo Místico” (Som Livre/Passion Brésil) é um dos frutos da parceria entre Edu Lobo (músicas) e Chico Buarque (letras), nesse caso na realização do espetáculo com o mesmo nome, apresentado pelo Ballet do Teatro Guaíra, de Curitiba.
As gravações envolveram uma produção grandiosa, com músicos do naipe do pianista e maestro Cristóvão Bastos e arranjos orquestrais de Chiquinho de Moares e Edu Lobo.
O diretor e libretista Naum Alves de Souza (1942-2016) se baseou no poema “O Grande Circo Místico”, incluído no livro “A Túnica Inconsútil” (1938), do alagoano Jorge de Lima (1893-1953).
“O Grande Circo Místico” foi preparado durante 1982 e estreou em março do ano seguinte.
Naum agregou na encenação circo, balé, teatro, poesia e ópera.
*
“Meu Namorado”, uma das canções de Edu e Chico, é um dos temas, no libreto de Naum, relacionados à domadora Margarete.
Ela é filha da contorcionista Lilly Braun com o dono do circo, o despótico Otto Frederico Knieps.
Como representado no “Êxtase de Santa Teresa”, a escultura de Lorenzo Bernini, Margarete é uma mulher flechada pela fé, uma esposa de Cristo.
Essa paixão mística deu à protagonista um poder sobre as feras. Esse trecho do poema original de Lima é memorável:
“E nenhum tigre a ofendeu jamais;
e o leão Nero que já havia comido dois ventríloquos,
quando ela entrava nua pela jaula adentro,
chorava como um recém-nascido”
O erotismo sacro que eleva a alma de Margarete, com toda dubiedade que o tema comporta, emerge em uma balada na densa voz de Simone.
“Ele vai me possuindo
Não me possuindo
Num canto qualquer
É como as águas fluindo
Fluindo até o fim
É bem assim que ele me quer
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada
É onde for morar você [...]Vejo meu bem com seus olhos
E é com meus olhos
Que o meu bem me vê”
Margarete queria se internar num convento mas, sem obter autorização paterna, resolve tatuar na “pele rósea” de seu ventre a Via Sacra do Senhor dos Passos.
Com isso, nunca mais pôde fazer amor com seu marido em carne e osso, o trapezista e cristão Ludwig.
O canto de Gilberto Gil em “Sobre Todas as Coisas” é o lamento do trapezista, cujo desejo reflui quando depara o ornamento místico no púbis da amada.
[...] “Não, Nosso Senhor
Não há de ter lançado em movimento terra e céu
Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
Pra circular em torno ao CriadorOu será que o deus
Que criou nosso desejo é tão cruel
Mostra os vales onde jorra o leite e o mel
E esses vales são de Deus
Pelo amor de Deus
Não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem
Não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
Abandonado pelo amor de Deus” [...]
Com o halterofilista Rudolf não tinha nada disso. Homem fera e ateu, ele viola Margarete, e morre com o ato terminado.
Essa é a história por trás do blues “A Bela e a Fera”, gravado de maneira definitiva por Tim Maia, no seu inigualável registro de baixo-barítono.
“Ouve a declaração, oh bela
De um sonhador titã
Um que dá nó em paralela
E almoça rolimã [...]Oh bela, gera a primavera
Aciona o teu condão
Oh bela, faz da besta fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela”
Grávida da besta-fera, Margarete dá à luz as gêmeas Marie e Helene, que se tornam o prodígio do Circo Místico.
Dançam nuas no arame e, em aparente mágica que apenas as crianças entendem, dão vida aos próprios membros, coxas, seios e sovacos.
São as “duas meninas num imenso vagão” da onírica “O Circo Místico”, cantada por Zizi Possi com a voz no auge do cristal.
No trabalho de Edu e Chico, as meninas são celebradas na divertida “Ciranda da Bailarina”.
Chico Buarque deu-se, como se esperava, inteira liberdade para recriar o imaginário do poema original.
Não usou nenhum dos 47 versos de Lima, recriou e até transformou uma personagem, a equilibrista Agnes, na atriz Beatriz, inspirada na musa de Dante Alighieri, Beatrice, que ciceroneia o poeta no paraíso, na “Divina Comédia”.
Ano passado, corridos 41 anos, Chico mexeu num verso da imaculada “Beatriz”, canção que já nasceu endereçada a Milton Nascimento, e quando a ouvimos não temos dúvida do porquê.
De "será que é divina/ a vida da atriz", a letra mudou para "será que é divina/ a sina da atriz". Acho que o encontro vocálico “vida da” incomodava o perfeccionismo do compositor esses anos todos.
É a canção mais celebrada de “O Grande Circo Místico”, chamada de “valsona” por seus autores, e que termina assim:
“Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A sina da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida”
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O pesquisador Chico Otávio dedica um de seus quatro programas na Rádio Batuta sobre a obra buarquiana para teatro à gênese de “O Grande Circo Místico”, ao papel de cada personagem na encenação e das canções e temas instrumentais.
Ele se detém tanto na construção musical de Edu quanto na elaboração poética de Chico. Uma das fontes mais óbvias do podcast, infelizmente não creditada, é o livro do jornalista Wagner Homem, “Histórias das Canções – Chico Buarque”, de 2009.
O site do IMS tem a íntegra do show/entrevista de Edu Lobo, de 2011, dedicado a “O Grande Circo Místico”, ele acompanhado por Cristóvão Bastos (piano) e Carlos Malta (sopros).
E, entre tanto mais sobre essa obra disponível na internet, há no Youtube um ótimo Som do Vinil, com Edu Lobo convidado de Charles Gavin.
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O que diz o professor Lorenzo Mammì sobre João Gilberto (no ótimo “A Fugitiva: Ensaios sobre Música”) também vale aqui:
O aniversário de Chico Buarque é o aniversário de um país, mais do que de uma pessoa.
Ele é um dos maiores senão o maior ícone cultural brasileiro.
Mas, na blague de Millôr Fernandes, de “única unanimidade nacional”, nos anos 1960/70, Chico hoje se tornou o bode expiatório preferencial de multidões biliosas.
Multidões que não alcançam o valor da arte e da cultura e, pior, confundem a pessoa do autor — suas opiniões, atitudes e vida pessoal — com a sua criação.
Isso é fatal para o desentendimento do mundo e, diga-se, esse mesmo mal também acomete certas tribos identitárias que perseguem pintores do passado, vandalizam obras de arte e derrubam estátuas nas ruas.
O bilioso me parece ser um negacionista da beleza, como da incompletude e fragilidade do ser humano.
Desgraçadamente, não pode entender nada — e ainda menos sentir alguma coisa — ao ouvir uma canção como “O Circo Místico”, com letra transcrita acima.
É a preferida de Edu Lobo e, por sinal, também deste espectador oculto na arquibancada.
Tem várias versões em seus discos, a última, primorosa, com Ayrton Montarroyos, no comemorativo “Edu Lobo - 80” anos, álbum duplo editado pela Biscoito Fino, ano passado.
Como comenta Chico Otávio, o letrista Chico coreografa os passos de uma reflexiva domadora Margarete no proscênio, depois de perder o marido, morto de tanta tristeza.
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Pois Francisco Buarque de Hollanda, filho de Maria Amélia Cesário Alvim (1910-2010) e Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982), faz 80 anos no dia 19.
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As encomendas do seu novo livro, “Bambino a Roma”, anunciado pela editora Companhia das Letras como “autoficção”, devem ser abertas este mês.
Aos nove anos, em 1953, Chico mudou-se com a família para a capital italiana, onde seu pai, historiador e cientista social, ia dar aulas.
O autor do clássico seminal “Raízes do Brasil” ocupou a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma até 1955.
Por lá ficaram quase dois anos. A nova obra de Chico trata de suas memórias desse período. Seu livro anterior, o excelente “Anos de Chumbo e Outros Contos”, é de outubro de 2021.
Há uma luz que brilha nas manhãs de todo último domingo de maio, apenas nesse dia. O azul do céu parece filtrar emanações de cores jamais repartidas por diamante algum.
É um mistério que a ciência não alcança e que uma pessoa pode deparar sem querer e sem saber.
Eu descia a ladeira da rua Assunção para ir ao mercado quando senti um aroma peculiar e voltei a Córdoba.
Voltei às vielas de altas muradas para conter a força do sol, aos limoeiros que alegram os passeantes, ao Guadalquivir a esplender ao luar sob a Ponte Romana, aos deliciosos e refrescantes pátios andaluzes e às tavernas onde servem flamenquín e berenjenas al miel, bocadillos matizadas pelo travo terroso do jerez de Sierra Morena.
A inesperada viagem durou alguns segundos, e me deu que sentir.
Além de garantia constitucional, a liberdade de culto devia ser princípio sagrado para o crente de qualquer confissão.
Mas não é aí que está o busílis? me pergunta o sargento Rosalvo, que desde as páginas de “Agosto”, romance de Rubem Fonseca (1925-2020), vive a me enquadrar a memória.
Anitta tinha 65 milhões de seguidores na internet. Por ter homenageado sua orixá num clipe, perdeu 200 mil infelizes.
“Na ótica do terreiro, entretanto, livrou-se de um encosto, ganhou”, comentou o professor emérito da UFRJ, jornalista e sociólogo Muniz Sodré.
Saíram bonitas as palavras de Sodré, com 82 anos, de desagravo à fenomenal Anitta, uma artista que não tenho em nenhuma de minhas playlists.
Isso não me impede, por óbvio, de respeitar seu megassucesso mundial, suas obras sociais, sua biografia e, ainda mais, sua livre expressão religiosa.
O velho mestre abre seu texto com um parágrafo lapidar sobre a ópera cômica que se tornou a revolução tecnológica nas comunicações:
“No deserto moral do digitalismo, impera a lei dos números. Cem vale menos que mil, que vale menos que um milhão, independente da qualidade do fato. Uma mentira óbvia compartilhada por milhões parece verdade. Um político pode ter popularidade numérica positiva, embora com qualificações morais negativas. Isso vai de mídia e rede social ao cotidiano vivido.”
Há algo de farmacêutico no reino da Dinamarca.
Segundo li numa reportagem, a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e Wegovy, remédios para diabetes e perda de peso, vale quinhentos e setenta bilhões de dólares — dois trilhões e novecentos milhões de reais.
Sem a contribuição da Novo Nordisk (dois bilhões e trezentos milhões de dólares pagos em impostos), o PIB da terra do príncipe Hamlet teria estagnado no último exercício, informaram as repórteres Sanne Wass e Naomi Kresge.
A semaglutida, princípio ativo desses medicamentos, conquistou “ricos e famosos” e, digo aqui, lidera sonhos sanitários e estéticos.
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Já o valor de mercado Lundbeck, compatriota mais modesta de Rosencrantz e Guildenstern, especializada na farmácia espiritual, chega a cinco bilhões e quatrocentos milhões de dólares.
A Lundbeck é fabricante do antideprê Lexapro, com o genérico Escitalopram e similares no Brasil.
O produto importado de dez miligramas custa duzentos e cinquenta pilas, em média, no país; nos EUA, quatro verdinhas de cem.
Neste domingo, 9 de junho, sairá cedinho a quarta história do “Réquiem do Boi - Memórias Melódicas”, o quarto capítulo, “Melopeia”.
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Observo a intrigante carolina (Pachira aquatica), cuja copa sombreia a sacada de nosso apê provisional, e dela dou notícia aqui.
No Belo, essa árvore é mais conhecida por munguba; no Maranhão e Pará, carolina, que prefiro.
Depois da semeadura no asfalto, agora seus próprios frutos lenhosos começaram a secar, se repartir e despencar ruidosamente no chão, encerrando assim mais um ciclo.
Enquanto isso já aparecem algumas flores no mesmo pé. À luz da tarde, ostentam uma coloração castanho-dourado.
Tem toda pinta de disco do ano este “Collab” (Sony Music).
O título abrevia o encontro do bandolinista Hamilton de Holanda com o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, ambos reverenciados no mundo.
Críticos e Grammy vão rotular o álbum de jazz afro-latino ou o que seja, pouco importa.
O relevante é o resultado que sai da conversa de dois instrumentistas virtuosos, exímios na experimentação e fusão de tempos emocionais.
Entre as onze faixas estão composições de Hamilton como a melodiosa “Choro Fado”; “Saudade, saudade”, tristonha balada dos portugueses John Blanda e Maro; e “Silence”, do contrabaixista de jazz Charlie Heiden (1937-2014), tema que lembra o ouvinte isso mesmo, variações sobre o silêncio.
O soul “Don’t You Worry 'Bout a Thing”, de Steve Wonder, com participação do harmonista Gabriel Grossi, e “Incompatibilidade de Gênios”, clássico da dupla João Bosco e Aldir Blanc — em duas faixas, uma instrumental outra na voz de João — também se destacam na celebração da música esse encontro proporciona ao ouvinte.
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Outro lançamento pra se ouvir agora mesmo traz o guitarrista americano Lee Ritenour e o pianista e arranjador David Grusin, de 89 anos.
“Brasil” (selo Candid) tem entre os músicos brasileiros convidados o guitarrista Chico Pinheiro, que atua numa memorável versão da jobiniana “Stone Flower”, e Ivan Lins, plenamente em forma aos 78 anos.
Lins canta “Vitoriosa”, sucesso de sua longa parceria com Vitor Martins.
O álbum é uma exaltação relaxada e auspiciosa à música brasileira e sua influência, filiada à já longeva eleição do jazz americano a compositores como Lins, Tom Jobim ou Milton Nascimento — com a obra presente em duas faixas, “Cravo e Canela” (com Ronaldo Bastos) e “Catavento”
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“Zamba Negra” acaba de sair do forno jazzístico com ingredientes cubanos, brasileiros e argentinos, tudo coberto por raízes afro.
Lembra muito um disco de choro. Será por quê? Ora, somos muitos próximos e a música viaja como passarinho, nem aí pra fronteiras.
A gravação registra o encontro do clarinetista e compositor cubano Paquito de Rivera com o duo argentino Hermanos Saboya — Carlos y Jorge Saboya — dedicados à música folclórica com influência do tango e do jazz.
É outro lançamento para agraciar os ouvidos mais seletivo.
A última faixa, “Amigos Saboya”, de Yamandu Costa, e a terceira, “Jorginho do Bandolim”, de Sérgio Assad, são as duas composições brasileiras no álbum.
Mas volto ao ponto: “Zamba Negra” é sobretudo um bonito painel da universalidade do choro.
Outra faixa, “Cantora”, composta por Lucas Saboya, então, é um choro rasgado, por assim dizer.
Ao ouvi-lo, é possível acessar nas altas esferas o palco onde Pixinguinha sempre se apresentará.
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Grandes marchinhas: “Maria Escandalosa”.
A composição de Klécius Caldas (1919-2002) e Armando Cavalcânti (1914-1964) surgiu em 1955, em gravações de Blecaute (1919-1983) e Dalva de Oliveira (1917-1972).
“Maria Escandalosa” fez um baita sucesso no Carnaval do ano seguinte.
Há nos tocadores digitais gravações de Ney Matogrosso e outras tantas em pot-pourris, registros de musicais e compilações.
Maria Bethânia, sempre pioneira, juntou “Maria Escandalosa” com “O Mundo Não se Acabou” (gravada por Marlene em 1937), de Assis Valente (1911-1958), e “Eu Dei” (lançada por Carmem Miranda em 1937), de Ary Barroso (1903-1964).
A faixa é do LP “Drama 3º Ato – Luz da Noite – Ao Vivo”, show apresentado em 1973, no Teatro da Praia, no Rio.
Sacana e deliciosamente, a baiana costura seu medley como uma expressão da sexualidade feminina, como um divertido troco no óbvio machismo da letra — fato que, não sendo nada incomum em seu tempo, não devia nos impedir de apreciá-la agora mesmo.
“Maria, escandalosa,
Desde criança, sempre deu alteração,
Na escola, não dava bola,
Só aprendia o que não era da lição.Depois a Maria cresceu,
Juízo, que é bom encolheu,
E a Maria escandalosa,
É muito prosa,
É mentirosa,
Mas é gostosa. […]
Acho muito engraçado este “sempre deu alteração” do segundo verso.
Meninas e meninos que davam “alteração” eram os mais divertidos na escola.
Mesmo depois, jovens e adultos com algum grau de “alteração” costumam ter o dom de nos aliviar o tédio.
*
Por ora é isso, bicho, acho. Salve e saravá e um abraçaço.